Ele era todo animal. Salivava como animal, cheirava como animal e devorava o seu objeto de desejo como um animal.
Havia transpassado a barreira do social, com isso ganhou a estranheza daqueles que o circundavam. Tornou-se só, como um animal que se volta contra o grupo, gata que se alimenta dos seus filhotes. Ele quebrou as regras. Enquanto todos usavam sapatos ele pisava com o calcanhar nú o chão de areia.
Saia à caça sob a turva noite da cidade grande. Esgueirava-se pelas vielas atrás de satisfação. Comia do lixo, rolava na sujeira e se lambuzava de tudo o que podia chocar.
Às vezes tinha repulsa de si mesmo, neste momento percebia que possuía muito de outros. Rolava no lodo para esquecer, para mostrar-se diferente. Culpava o grupo pela violação do natural (mesmo sem saber até onde esta noção era válida), por incutir convenções.
Olhava para fora tentando descobrir o que havia dentro de si, sobre sua essência. Experimentou o mundo com voracidade para alimentar o vazio. Uivou para lua, sangraram suas chagas e só no ultimo momento chorou. Chorou sem entender.
IMAGEM: http://farm5.static.flickr.com/4111/5197930445_c69dd7839b.jpg
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