quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Linhas do que passou

Não era a nossa primeira discussão, mas tenho a certeza que nenhum de nós acreditava que seria a última. Seus olhos sempre verdes, tornavam-se amarelados nos momentos de exaltação. Nunca me recordei qual foi o motivo da briga, só me recordo que a levei a sério quando ele disse que eu estava com ele por conveniência... A retrospectiva de minhas lágrimas ao longo desses anos, em fração de segundos, gerou cólera em meu peito. Talvez somente Deus soubesse o quanto sofri e que a minha posição era a menos favorável naquela história.

Quando dei por mim já havia pronunciado todas as verdades que ele mais rejeitava. Sublinhei a sua covardia, sua omissão, seus medos e desejos. Primeiro ele gritou com ódio, por três vezes chutou a porta. Depois de tudo o que passou, analisando friamente a cena, entendi que não era comigo que ele brigava, mas era com ele mesmo. Ainda naquele frenesi, ele deu algumas voltas no quarto, inicialmente com um choro silencioso, que não tardou em desaguar em longos soluços.

Minha vontade era abraçá-lo, mas eu estava como pedra. Nunca havia o visto tão indefeso, tão menino... Se há algum sentimento que descreva a frase Fim da Linha, não há duvidas que era o que ele sentia naquele instante. Toda a cólera do meu peito converteu-se em compaixão, mas ainda anestesiado eu não fiz qualquer movimento, também não disse coisa alguma.

Seu semblante mudou novamente, não para o rosto de quem se acalmou... Não! Foi para uma face de quem escolheu no meio da tormenta. Ele me olhou, ainda em soluços, repetiu diversas vezes que me amava, que tudo havia sido de verdade. Disse que havíamos feito tudo certo e que a culpa era toda do tempo. Foi o tempo que errou, correndo depressa não lhe deu oportunidade de decidir por mim, já que a escolha ele já havia feito há tanto tempo.

A partir desse momento não sei exatamente a ordem dos fatos que se seguiram... Nos beijamos, eu chorei e ele em passos arrastados saiu pela porta sem nunca mais voltar. Três dias depois a campainha tocou longa e solene, não era necessário terem dido nada, eu já havia entendido.

Pedro estava na porta para informar o suicídio do pai. Ainda um adolescente, com os olhos cheios de lágrimas, disse saber que eu sentiria tanto quanto ele. Nunca tive a certeza se aquele rapaz conhecia a nossa história. Mas ele foi à única testemunha de minhas confusas lágrimas.

IMAGEM ORIGINAL: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYNZN6oWNX4Jc0fLVHzirFN5T3VDlikmfc4fgVHybQWPtlRbhzL05d_eYbSgWEBWMfR6VuQ6FWHHpnJ9zUscsl3SLMpRTdnS-eOzqkEyobief74IReyUadCxl4H5QCHTOjlEWZpE__6-k/s400/abraco6.jpg

Um comentário:

  1. Nossa que história triste!
    Gostei da transição de sentimentos.

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