À noite estava úmida e eu voltava de um passeio. Estava admirando a paisagem que corria fora da janela do coletivo, a noite estava avançada, escura e sem estrelas. Não havia trânsito algum e o ônibus deslizava sobre a avenida arborizada.
O celular vibrou em meu bolso e me despertou de um sonho sem imagens, eu estava em transe em um jogo de sentidos: olhando, cheirando, ouvindo... Sem nada equacionar.
Era um convite para pernoite, amanhecer em outra cama, em outros lençóis. Não hesitei, calculei em qual parada devia descer e em quanto tempo estaria lá. Como é costume aguardei quase meia hora o anfitrião da hospedagem.
Chegou a passos lentos, com seu olhar de mistério, as mãos nos bolsos, taciturno. Cumprimentou-me com um breve aperto de mão e um curto sorriso. Caminhamos duas quadras, sem nada pronunciar, chegamos na residência. Era uma casa em rua estreita, dois andares, com entrada independente para o segundo andar. Ele abriu o portão silenciosamente e indicou o caminho para que eu seguisse na frente. A casa não era pequena, mas estava cheia de coisas, sem dúvida ele não há havia organizado a seu gosto, tinha os traços de outro alguém.
Sentei na cama, na pressa de familiarizar-me com o quarto, passei algum tempo distraído com a TV a cabo enquanto ele tomava um banho demorado. Olhei ao reder classificando onde eu estava, quem eu era, quem era a criatura que me recebia. Como etiquetando frascos em uma gigantesca loja. Ele demorou e por um instante me distrai verdadeiramente com os desenhos da TV, mas logo ouvi o ruído do registro interrompendo o jato de água. Passou mais algum tempo se perfumando e logo veio deitar-se comigo na cama.
Seus olhos estavam distantes e eu nem ao menos podia afirmar que ele pensava em mim. Meu corpo - até então desinteressado - acendeu-se como fogueira de folhas secas. Como animal, agi segundo meus instintos, meus desejos, segundo a vontade de possuir toda a sua pele. Ele não retrucou, quase nada impediu, mas não quis compartilhar de minha fome. Na mesma agilidade que iniciei a ação eu a finalizei, um pouco indócil com sua frigidez. Não nos vestimos. Ele abraçou meu quadril, como criança, como filho, como bezerro novo em corpo de homem. Eu acariciava seus cabelos tendo as primeiras luzes de compreensão que meu papel ali era outro.
IMAGEM: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu2yE3RnKiyzNuuBLHDr47IE4SwIlARndKG6MvZKI1j2XTQJcTCL_PRbzb0iBtzWujF3j21i7Qc8MbMC5u4nPJ07-aJV9f0CO1hTUl-N_BEeEYeZgjBVdHV9oV97uU4YZy_JhXf-7nseOe/s320/tumblr_kxcluwGlgX1qahacvo1_400_large.jpg
Gosto muito de seus escritos! De verdade
ResponderExcluirAdorei esse!
ResponderExcluirNo dia em que li, me identifiquei muito, pois nesse dia eu estava de mente vazia, sem nenhuma palavra na boca, somente o silêncio, expressão de "nada", como nesse texto queria alguém apenas para abraçar, alguém que não me perguntasse "O que foi?", apenas me consedesse sua presença.
Parabens pelo escrito, gosto muito do jeito que vc descreve o ocorrido.
Posso saber de onde vem tanta inspiração???
ResponderExcluirMe recordo muito bem deste dia, por mim teria repetido mais vezes, mas o tempo sempre teimou em passar mais rápido do que eu gostaria. ( o tempo passa e as vezes eu nem o vejo)
ResponderExcluirSimplesmente Magnifico!
ResponderExcluir=)...
Ass.: Anônimo Conhecido!