domingo, 15 de dezembro de 2013

Triângulo das Águas, Caio Fernando Abreu

“Eu não podia permitir a mim mesmo continuar me perdendo no que deixara de ser.”
 
O livro Triângulo das Águas, composto por três novelas: Dodecaedro, O marinheiro e Pela noite, ganhou o prêmio Jabuti 1984. É um livro emblemático do Caio Fernando Abreu e sem dúvida tão importante quanto o texto são as circunstâncias com as quais foram escritos. Na apresentação da edição da L&PM de 2012, Caio conta que teve que voltar correndo das festas de carnaval porque a primeira novela insistia em nascer. É exatamente essa a sensação, a história brota por si só. O próprio autor, a certa altura do comentário, diz ter sido um cavalo (no candomblé tem sentido de incorporação), ou seja, cedeu as mãos para que os personagens falassem. Não diminuindo o trabalho do autor que sem dúvida, feito artesão, deve ser se gastado para moldar no papel o texto que precisava ser dito. Mas as novelas de Abreu parecem ter vida própria. Elas saem do papel entram em nossa retina, tomam nosso pensamento, nosso estômago, vísceras e coração.

Em Dodecaedro você acompanha a narrativa sob o olhar de cada um dos doze personagens e ainda ouve o sussurrar da décima terceira voz. Você compra suas verdades, os defende e os condena. E assim como Linda, você dança no caos de suas vidas.

Em o Marinheiro, talvez, você se coloque no lugar do protagonista e comece a pensar o que você mesmo espera. Começa a pensar se também sente o cheiro do mar e as sensações que poderia reviver. Você pensa o que anda escondendo dos vizinhos, vizinhos que talvez seja você mesmo. Ou talvez, não pense em nada. É possível que tenha desistido de insistir nas conclusões e como última provocação se entregue a Pérsio assim como Santiago, esta é a última novela: Pela Noite. Pérsio nos leva por uma noitada nas ruas paulistanas. Prosa cosmopolita, noturna, ácida, alucinógena, mas como havia de ser, ainda salpicada de esperança de amor.

Não temam caso a compreensão pareça não ser das mais simples, realmente não é. Caio diz ter criado algo hermético e cifrado, diz querer ser como Clarisse e escrever não para atrair leitores, mas para afastá-los, mas vale a pena esse encontrão. Vale a pena arrombar as páginas de Triângulo das Águas e invadir a intimidade do texto de Caio. É possível ainda que cada leitor, coautores, empregue suas próprias verdades.

IMAGEM:
http://www.livrariascuritiba.com.br/Imagens/Ebooks/DLD/9788525421746.jpg

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