domingo, 3 de outubro de 2010

Um gole de tristeza

Os chuviscos lá fora são insistentes... É primavera e eles vieram sem que eu os esperasse. O chocolate está quente, estou com uma fina malha e a companhia discreta das palavras de Marques reafirma o meu estado neste dia. É um novo pacto com a solidão, se antes por escolha ou por comodismo, hoje é uma imposição da vida.

Nos vulcões de abrasadores amores eu me reconheço. É como se versos de Pablo Neruda estivessem sendo sobrados em meus ouvidos. Porem este misto instintivo anda adormecido nas profundezas de minhas saudades. Olho para a estante repleta de livros, somente os que mais gosto! O último da primeira prateleira é um Dostoievski e na minha poltrona marrom sinto todo o vazio de Raskólnikov, como se este cômodo fosse a Rússia antiga...

Agora tenho nítida a densidade dos meus devaneios. Sobre os livros enfileirados, na prateleira do meio, está um Jorge Amado. Lembro de Pedro Bala e me pergunto: onde perdi minha Dora? Talvez tenha sido no mar de meu egoísmo, verdadeiramente eu não sei se sou como os Buendía, fadado a solidão, ou se está foi sendo escolhida nos anos que se extinguiram trás de mim.

Tomo um gole de chocolate, tinha a impressão que só havia passado alguns segundos, mas o liquido está estranhamente frio. Queria ter folhetins para me iludirem, me romancear, assim como fez a Luísa de Eça de Queirós, ou seria de Basílio?

“Uns tomam éter, outros cocaína. Eu tomo alegria!”. É isso o que me diz Manuel, diz isso com um sorriso sarcástico. Mas eu lhe digo: Eu tomo tristeza oh Bandeira! E não me pergunte o porque! Se tudo isso fosse musica o Renato me diria que a tristeza até que me cai bem... Se na minha loucura houvesse trilha sonora, assim como a novela das oito, talvez seria O Passeio da Boa Vista.

Não me leve a mal Manoel, mas eu prefiro o seu último poema... Sempre entre soluços sem lágrimas. Uma brisa me desperta, levanto para fechar a janela. A chuva já passou e levou consigo toda a manhã, esta rua nunca esteve tão silenciosa, acho os meus movimentos tão estranhos, me pergunto se adormeci na poltrona ou se estou dormindo nesse momento. Fiódor sopra no meu ouvido: “Não se chega a nenhuma verdade sem nos enganarmos pelo menos quatorze vezes, talvez cento e quatorze, e isso é até uma honra”. Mesmo apático surgiu um pequeno sorriso... Russo miserável, quase me pegou dessa vez, não consigo me deter e escapa um sorriso largo.

Concluo que é um sonho... Mas o livro do Gabriel está na pagina onde parei. Estou acordado! “A necessidade de se sentir triste ia se transformando num vicio a medida que os anos a devastavam”.

IMAGEM:
Homem lendo, 1881
Vincent van Gogh ( Holanda 1853-1890)

http://peregrinacultural.files.wordpress.com/2010/08/van-gogh-homem-lendo-aquarela-e-carvao-1881-museu-kroller-muller.jpg

2 comentários:

  1. Gil! Adorei seu texto! E olha que de solidão eu entendo e vê-la retratada neste texto me fez lembrar o tempo em que sofria com ela. E linkar Jorge Amado com Bandeira é fantástico! Parabéns! Continue escrevendo!

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  2. Eu vejo sua solidão onde as únicas coisas que lhe fazem companhia são as obras que lê. Na minha opinião o texto começou bem, porém no meio quando você comenta das obras e seus autores, tome um pouco de cuidado, do jeito que você escreveu quebrou um pouco o clima que dá nome a seu texto fazendo-o perder o sentido e na retomada final à solidão fica um estranhamento na leitura. Procure consiliar melhor essas coisas ok :). Gostei mais da segunda parte você consiliou bem os comentários de seus autores favoritos com a história
    Como diz a filosofia uma crítica é sempre construtiva ;)

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