
Hoje poderia chover, me conforta a desculpa da chuva para não sair de casa. Vou até a cozinha para preparar café. Gosto de tomá-lo com leite na minha grande xícara. A minha poltrona, sem dúvida, me aguarda. O telefone toca e meu coração se anima, talvez seja um convite para algo inesperado. Engraçado, conhecer tanta gente e conviver com elas na correria da vida profissional não nos impede de sermos sozinhos. O telefone era engano e sou pego de surpresa pela auto-piedade, penso nos colegas que dizem que eu preciso sair mais, conhecer gente nova... Fico com as palavras do padre: “... bem sei que a compaixão de outrem pode ser alívio por um momento: absolutamente não a desprezo. Mas ela não sacia a sede, passa pela alma como por uma peneira. E quando nosso sofrimento tiver passado de uma piedade para outra, assim como de uma boca para outra, parece-me que não poderemos mais respeitá-lo, nem amá-lo...”.
O café esta pronto! Sento-me na poltrona para ler o Hobbit, mergulhar na Terra Media de Tolkien. Incrível como a narrativa é tão fantástica e tão humana. Uma fantasia recheada de verdade. Falta-me a coragem do pequeno Bilbo. Estou preso no meu Condado interior e não tenho coragem de enfrentar a Montanha Solitária. Estranho como minhas limitações ficam claras para mim. Quando leio me reconheço, me descubro... Mas ainda não sei como me conserto.
Termino o livro e o ócio me consome, assim como o ativismo. Tiram-me do que realmente sou, do que devo pensar... A Ordem dos Templários toca no meu aparelho de som, por alguns instante acreditei ficar sem pensar em nada. Levanto-me e vou até a estante, reorganizo os livros que não estavam bagunçados. Olho a capa da minha edição de Macunaíma. A grande cidade de São Paulo, vista de cima, sem os paulistanos, ou talvez como cantaria o Zeca: “tão solitário quanto um paulistano”. Na definição do meu próprio eu, penso em toda a humanidade, ainda com o livro de Mario de Andrade nas mãos, penso no que diria O Herói Sem Nenhum Caráter: “De toda essa embrulhada o pensamento dele sacou bem clarinha uma luz: Os homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens”.
Dou risada de mim mesmo... Vai entender como acontecem essas conexões no meu pensamento! Fecho as janelas, o tempo correu, a lua veio e trouxe a escuridão. Penso no amor, em todos que dizem que existe, nos que afirmam que não... Não sei o paradigma que sigo. A música que soa agora é Marcianos Invadem a Terra, o Renato canta: “será que existe vida em Marte?”. Isso! É assim que penso quanto ao amor, este é o paradigma que sigo... Uma vontade de acreditar, mas nenhuma prova real, cientifica, experencial... Nunca fui amado! E essa conclusão é sem piedade, sem preconceitos, é somente uma constatação.
IMAGEM ORIGINAL:
Retrato do Dr. Gachet, obra de 1890 (Van Gogh)
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Portrait_of_Dr._Gachet.jpg
Retrato do Dr. Gachet, obra de 1890 (Van Gogh)
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Portrait_of_Dr._Gachet.jpg
Querido, você tem talento!
ResponderExcluirAdorei ler-te, rs.
Adorei o jeito com o qual você retrata a monotomia de um dia e ao mesmo tempo a agitação constante da mente que nunca para.
ResponderExcluir=(
ResponderExcluir