domingo, 5 de junho de 2011

Tenda dos Milagres, Jorge Amado

O romance de Jorge Amado é de narrado em duas épocas, uma contemporânea ao forte protagonista Archanjo e outra cem anos após o seu nascimento. “A Tenda dos Milagres é uma espécie de senado, a reunir os notáveis da pobreza, assembléia numerosa e essencial. Ali se encontram e dialogam ialorixás, babalaôs, letrados, santeiros, cantadores, passistas, mestres de capoeiras, mestres de arte e ofícios, cada qual com seu merecimento”.

Pedro Archanjo é o mulato pobre da Bahia, em uma época de muito preconceito, mostrou que o mestiço tem potencial como todos os outros. Autodidata usou o papel e a caneta para travar uma guerra cientifica contra o racismo, fez-se antropólogo sem diploma. “... de muita sabedoria e esperteza, de bom conselho e experiência, conversador de fama, bebedor de marca, mulherengo até o fim, pródigo fazedor de filhos, preferido dos orixás, confidente dos segredos, um velho tio do maior respeito, quase um feiticeiro, Ojuobá”.

O espaço, como é comum nos textos de Amado, é Salvador. O povo pobre da Bahia. A narrativa se apresenta como um verdadeiro tratado em favor da miscigenação e contra o racismo. Segundo Archanjo: “Da miscigenação nasce uma raça de tanto talento e resistência, tão poderosa, que supera a miséria e o desespero na criação cotidiana da beleza e da vida”. As relações de camaradagem entre os personagens pobres são usadas como álibi para mostrar a bondade do povo afrodescendente. No decorrer da narrativa o autor, ao exibir insistentemente os ritos do candoblé, o coloca como cultura própria do povo. Apresentando associados a essas práticas figuras cristãs, se mostra favorável ao sincretismo religioso.

No entanto, a idéia de cultura, distanciando-se da crença fiel da religião é sacramentada na fala do próprio protagonista. Após ser homem da ciência, Archanjo confessa ser materialista e entender o candoblé como hábito, negando a contradição entre os papeis que desempenha: “Se em algo mudei e certamente assim aconteceu, se dentro de mim romperam-se valores e foram substituídos, se morreu uma parte de meu ser antigo, não renego nem renuncio a nada do que fui. Nem sequer à marmota suja e indecente. Em meu peito tudo se soma e se mistura”.

A segunda parte da história é diluída e intercalada com a contemporânea a Pedro. Ela fala sobre Fausto Pena, um jovem poeta que pesquisa a vida de Arcanjo a pedido de um americano (o nobel Levenson). Os livros de Pedro Arcanjo ficaram décadas esquecidos pelos brasileiros e teve destaque apenas porque o norte americano os redescobriu. Na história resolvem comemorar o centenário do nascimento do autor e com isso o pintam de novas cores, fazem dele um herói da nação, modificam o que não convêm e acrescentam o que acham necessário, contradizendo a verdadeira pesquisa feita por Pena.


P.S. A obra de Jorge Amado já foi adaptada para o cinema, o filme é de Nelson Pereira dos Santos (1977). Em 1985 a Rede Globo apresentou uma minissérie de mesmo nome, Escrita por Aguinaldo Silva e Regina Braga. Tendo como Pedro Archanjo o ator Nelson Xavier.

Imagem: http://i.s8.com.br/images/books/cover/img7/21408857_4.jpg

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