Choveu muito, como em tantos outros fevereiros. Eu não estava com paciência ou disposição de enfrentar o transporte público após o temporal que caiu sobre a cidade, mas ainda assim fui até a estação. “A linha Amarela não está interligando com a Esmeralda, falha técnica!”. Foi o que gritou os alto-falantes assim que pisei na estação. Que arco-íris confuso, eu pensei, porque tudo tem que ser tão técnico? Mas confusa mesma era a fila para entrar na estação. Desisti de chegar em casa nas próximas quatro horas.
Como um homem das cavernas, minha preocupação inicial é sempre pelo órgão vital... Meu estômago! Procurei o quanto antes um lugar para jantar, massa foi o prato da noite. Como bom observador, após estar satisfeito, fiquei olhando as pessoas na praça de alimentação. Múltiplas! Tribos diversas circulavam na mais paulista das avenidas... Isso parece texto de propaganda... Pois bem, todos integrados. A galera de terno, junto com a galera de coturno, as garotas de mini saia, uns garotos de bolsa Louis Vuitton, os caras com skate... E depois que olhei todo mundo, olhei para mim... Eu era o cara de jeans e camisa, meio perdido da tribo, distribalizado (existe isso?). Uma vez alguém me perguntou, acho que na escola – porque é quando precisamos muito ter uma trupe - qual é sua turma? Não corta o cabelo assim ou assado, não tem esse ou aquele visual... Qual é a sua turma? Dez anos depois eu me perguntando... Qual é a minha turma?
A chuva tinha dado trégua, eu poderia atravessar a avenida e ir olhar alguns livros... Olhar! Porque o orçamento estava apertado para ter a insolência de pensar em comprar algo. Porque livro é tão caro? Nesse momento alguém diz: “Vai ao sebo”. Sebo também é caro, além disso, o estado deles ataca minha rinite. Outro diz: “Lê na Internet”. Nãooooo! Chega de vida virtual. Eu quero tocar as palavras, sentir o peso da história, folhear sonhos.
Fui andar pela avenida molhada. As pessoas já saiam debaixo das marquises, o movimento característico de uma sexta a noite tomava conta da avenida. Sem explicação, passei em frente à igreja e ouvi que estava tendo missa, entrei. Não me recordo o que dizia o padre, algo sobre a morte, mas logo ele terminou e deu a benção... Pronto! Eu estava abençoado. Sai da igreja e continuei seguindo o fluxo e contra fluxo, pois como a vida, também a avenida é esse vai-e-vem. Um cara de barba por fazer, roupas alternativas (o que são roupas alternativas?), falando portunhol, me pediu informação... Queria saber sobre alguma rua, travessa... Eu expliquei, do meu jeito, confuso no senso de direção, com direita e esquerda.
Passei em frente à estação. Achei que era hora de voltar pra casa. Sem saber quanto tempo eu estava vagando pela cidade, mas tendo a certeza que um bom tempo já havia se passado. Talvez a cidade já estivesse fazendo suas interligações, assim como a avenida aceitava e convivia com todos. Quiçá a água tivesse descoberto passagem no concreto para seguir seu rumo dentro da terra. Coloquei o fone na orelha, não antes de pegar milho na manteiga com o ambulante na entrada, e fui embora ouvindo canções de amor.
Como um homem das cavernas, minha preocupação inicial é sempre pelo órgão vital... Meu estômago! Procurei o quanto antes um lugar para jantar, massa foi o prato da noite. Como bom observador, após estar satisfeito, fiquei olhando as pessoas na praça de alimentação. Múltiplas! Tribos diversas circulavam na mais paulista das avenidas... Isso parece texto de propaganda... Pois bem, todos integrados. A galera de terno, junto com a galera de coturno, as garotas de mini saia, uns garotos de bolsa Louis Vuitton, os caras com skate... E depois que olhei todo mundo, olhei para mim... Eu era o cara de jeans e camisa, meio perdido da tribo, distribalizado (existe isso?). Uma vez alguém me perguntou, acho que na escola – porque é quando precisamos muito ter uma trupe - qual é sua turma? Não corta o cabelo assim ou assado, não tem esse ou aquele visual... Qual é a sua turma? Dez anos depois eu me perguntando... Qual é a minha turma?
A chuva tinha dado trégua, eu poderia atravessar a avenida e ir olhar alguns livros... Olhar! Porque o orçamento estava apertado para ter a insolência de pensar em comprar algo. Porque livro é tão caro? Nesse momento alguém diz: “Vai ao sebo”. Sebo também é caro, além disso, o estado deles ataca minha rinite. Outro diz: “Lê na Internet”. Nãooooo! Chega de vida virtual. Eu quero tocar as palavras, sentir o peso da história, folhear sonhos.
Fui andar pela avenida molhada. As pessoas já saiam debaixo das marquises, o movimento característico de uma sexta a noite tomava conta da avenida. Sem explicação, passei em frente à igreja e ouvi que estava tendo missa, entrei. Não me recordo o que dizia o padre, algo sobre a morte, mas logo ele terminou e deu a benção... Pronto! Eu estava abençoado. Sai da igreja e continuei seguindo o fluxo e contra fluxo, pois como a vida, também a avenida é esse vai-e-vem. Um cara de barba por fazer, roupas alternativas (o que são roupas alternativas?), falando portunhol, me pediu informação... Queria saber sobre alguma rua, travessa... Eu expliquei, do meu jeito, confuso no senso de direção, com direita e esquerda.
Passei em frente à estação. Achei que era hora de voltar pra casa. Sem saber quanto tempo eu estava vagando pela cidade, mas tendo a certeza que um bom tempo já havia se passado. Talvez a cidade já estivesse fazendo suas interligações, assim como a avenida aceitava e convivia com todos. Quiçá a água tivesse descoberto passagem no concreto para seguir seu rumo dentro da terra. Coloquei o fone na orelha, não antes de pegar milho na manteiga com o ambulante na entrada, e fui embora ouvindo canções de amor.
IMAGEM: http://culturingyou.files.wordpress.com/2011/12/avenidapaulista.jpg
Que bom vc continua tirando coisas interessantes de situações frustrantes ou cotidianas como um dia de caos chuvoso em São Paulo. Graças a Deus que eu estava em casa senão eu teria ficado maluco dentro de um ônibus tentando chegar em casa rsrs. Essa questão dos grupos é interessante, pois eu sempre me pergunto a mesma coisa, quem leu Percy Jackson sabe bem como é essa história. Gostei da obra Gil!
ResponderExcluirCara, parabéns, cada dia melhor, admiro muito a forma que encaixa uma palavras frente à outra, como descreve, muito bom manin, adorei o texto, mas...que sexta heim hehe...parabéns, ótimos textos desde sempre...
ResponderExcluirAbraço